terça-feira, 1 de junho de 2010

"Mademoiselle, garder les secrets de la vie avec vous"

imagem da internet


Ela estava aquecendo-se perto da lareira de sua sala. Pensava, sonhava e parava de existir; orgulhava-se de ter um mundo só seu, diga-se de passagem, completamente caótico, mas era justo isso que a encantava. O único desejo era pertencer ao não-lógico. Já tinha se cansado de todas as explicações. E desceu até o sótão; imaginava encontrar a magia que a faria voar: juntou um pouco de coragem, e misturou com curiosidade, porém acendeu a luz, lá embaixo tudo era mais escuro e as coisas mais estranhas ainda.


Não se contentou em apenas conhecer o sótão e reconhecer pertences antigos, não sabia dizer porquê ainda os objetos estavam ali. A menina queria mais, sua aventura não acabaria naquele exato momento. Mexeu desesperadamente em tudo, espirrou com toda velharia, mas só ela sabia o segredo.


De repente seus olhos brilharam um chapéu florido, um xale e um pedaço de papel escrito: “Querida, não demorarei. Não se preocupe e não se irrite, sempre voltarei. Assinado: Seu passarinho”. O que significava todas essas palavras? Os sótãos guardam tantas confidências. As pessoas nunca se libertam delas.


O mais esquisito é que ela sabia inconscientemente que pertencia a esse mundo. Encontrou uma vitrola tão velha e alguns discos espalhados pelo chão: “Isso aqui não vai funcionar”, pensou a menina um pouco decepcionada. No entanto, ligou a relíquia (não poderia ser chamado de outra coisa de tão antigo que era), não é que o negócio começou a tocar uma música, a melodia mais doce que já ouvira em toda sua vida.


Era uma voz veludosa e dizia algo em francês, alguma coisa, como: "Mademoiselle, garder les secrets de la vie avec vous". Para interromper as suas descobertas, outra voz, agora desta vez, era uma voz incisiva e aguda: “Alice, você está aí embaixo? Suba, menina, suba logo, pois está na hora do jantar”. E ela se foi com os segredos só dela.

 
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